quando te perdes a olhar e aprender

Às vezes gosto de olhar de perto para as famílias e pessoas à minha volta. Quando tenho tempo paro e tento perceber a dinâmica e como se organizam, quem manda lá em casa, o filho rebelde ou o lamechas.

Ontem dei por mim a reparar numa família com um miúdo autista. Fonix não se pode olhar para famílias com miúdos especiais que pode ofender pensei logo, mas depois se olho para as outras porque não posso olhar para aquela. Olhar e perder o mesmo tempo a perceber a dinâmica, sem maldade. É que quando há especiais exige sempre uma dose extra de qualquer coisa dos pais ou dos irmãos e tenho tanto que aprender que gosto de observar. Vi um miúdo se calhar difícil mas muita bem comportado, a mãe tentava mante-lo calado e ele assim o fazia se sentisse o consolo da mãe. Devia ter uns 8 anos mas a mãe pegava ao colo se fosse preciso acalmar, até porque o colo não tem idade e a mãe nunca se deve ter desabituado da carga. Quando a mãe o levava para se distrair o pai ficava mas parecia que uma parte dele também ia. Eles voltavam e o pai parecia mais tranquilo. 

Às vezes ele também foi ao colo do pai mas o pai não tem aqueles cabelos compridos que ele tanto gosta na mãe. Andou de colo e via-se que os pais às tantas já estavam cansados de o segurar.

Quando o miudo às tantas se soltou e ficou entretido no chão a brincar o pai estendeu-lhe os braços quase que com saudades ou só com vontade de mais um abraço.

Revi-me imenso neste ultimo momento. Gosto de os ter livres e quando se colam tanto a mim às vezes deixam-me louca. Depois vão e quase tenho pena de os ter largado.

Esta familia se calhar não tem quase nada de diferente das outras a não ser a dose extra de colo, de negociação e de dores de costas. Ao mesmo tempo aprende e sabe melhor o que é o amor devagarinho, e é tão bom.

Fiquei de ir lá no fim dar os parabéns porque, imaginando o difícil, o filho se portou tão bem e estão a fazer um trabalho incrível. Na multidão perdemos-nos e acabei por não dizer, da próxima não falha.

não sei se as pessoas pensam o mesmo quando olham para nós; eu das costas reclamo mas a verdade é que não trocava por nada este saber amar devagar que a vida nos deu.



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